domingo, 14 de outubro de 2007

Os Melhores Sketches dos Monty Python


Muito se discute, hoje, a nova vaga de humoristas portuguesas. Encabeçada, em larga escala, pelos Gato Fedorento, essa – se assim lhe podemos chamar – corrente veio trazer para junto do grande público português um humor onde o non-sense e a critica subversiva e socialmente irreverente impera. Um humor inteligente, metafórico, por vezes subtil, por vezes excessivo, mas sempre com uma grande implicação social. Como em quase tudo, Portugal chega atrasado. Nos anos 70, em Inglaterra, um grupo fazia exactamente o mesmo. Ver alguns dos filmes ou séries dos Monty Python é ter clara noção da sua importância para o humor contemporâneo, em especial para o tipo de humor que hoje se faz em Portugal.

Os Melhores Sketches dos Monty Python é uma compilação de alguns dos mais emblemáticos momentos que o grupo protagonizou. Isto porque a sua importância enquanto agentes humorísticos é de tal ordem, que alguns sketches se tornaram parte da cultura Pop, símbolos de um tipo de comédia. São alguns destes – quase todos os de maior renome – que podemos ver no Casino Lisboa. Com tradução de Nuno Markl, um comediante essencialmente bom a nível do que escreve, a peça é encenada por António Feio, que também interpreta, juntamente com Bruno Nogueira, Jorge Mourato, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme. Uma super-produção, pois claro.

Estavam assim reunidas as condições de ver alguns dos melhores momentos de humor reproduzidos – e adaptados à realidade portuguesa – por alguns dos melhores humoristas portugueses. E, apesar de todos jogarem bastante no campo do humor físico, cada um à sua maneira consegue conquistar por completo os espectadores. Miguel Guilherme nos discursos alucinantes, José Pedro Gomes na experiência e improviso, António Feio na versatilidade, Bruno Nogueira na irreverência e Jorge Mourato por, contra algumas expectativas, nunca se deixar ficar para trás.

Para quem, de antemão, estava familiarizado com os sketches representados, a comparação seria sempre inevitável. E se, como é óbvio, o saldo é claramente favorável aos originais, a verdade é que em algumas alturas se consegue explorar bastante a cena do que na versão filmada. É o que acontece, por exemplo, no sketch do encenador ou no do papa. Grandes símbolos, como o papagaio morto ou a piada que mata, talvez porque já todos nós os vimos da melhor forma que podíamos ter visto, nem sempre ficam à altura. A encenação de António Feio ajuda à festa e a tradução de Nuno Markl – com excepção do incompreensível refrão do tema principal – é adequada, discreta e nunca desvirtua o original.

O espectáculo é exactamente o que podíamos esperar dele. Grande, imponente, por vezes show-off e, fazendo jus ao nome e ao pleonasmo, espectacular. Há comédia feita para um público o mais alargado possível, mas nem por isso deixa de haver humor inteligente, socialmente consciente e interveniente. Há tanto de homenagem aos Monty Python como de mera exploração comercial. Há tanto de comédia eclética como de elitismo intelectual. É uma peça de teatro comercial? É sim. É comercial, é bom e nós gostamos.

Em cena no Auditório dos Oceanos, no Casino Lisboa, até 28 de Outubro.

Título: Os Melhores Sketches dos Monty Python
Encenação: António Feio
Tradução: Nuno Markl
Elenco: António Feio, Bruno Nogueira, Jorge Mourato, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme.

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