terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sete Vidas


Há muito que Will Smith se especializou em dois registos. O de heroí misantropo e sacrificado pelos outros e o de personagem principal em "feel-good-movies". Desta vez, parece ter-se apercebido disso mesmo e, não contente, tentou juntá-los. Isto dá qualquer coisa como um heroí misantropo de um "feel-good-movie", portanto. Não estamos assim tão longe. Sete Vidas é uma piscadela de olhos ao celebrado Em busca da felicidade, quer na forma quer no conteúdo. Difere na substância e na realidade. A verdade é que enquanto o filme de 2006 é natural e próximo na forma como nos emociona, Sete Vidas esforça-se demasiado por isso. Havia algo de real, e de premente, na forma como a personagem de Smith lutava contra as conjunturas em Em busca da felicidade. Perdeu-se. Continuam a querer pôr-nos a chorar, mas tudo isso se perdeu.
Mais uma vez baseado numa história veridica, desta vez Will Smith é Ben Thomas, um homem destroçado pela história da sua mulher que decide montar uma cruzada altruísta de ajuda ao próximo com contornos de masoquismo e de auto-destruição. Deste ponto, e da relação entre Smith e Rosario Dawson - uma das pessoas que decide ajudar -, nasce o princípio de um melodrama dramático, com direito a todos os apetrechos que nos possam, eventualmente, emocionar. Há mais de mini-série televisiva portuguesa de baixa qualidade neste filme do que poderíamos desejar. Não na forma de fazer - o "Know-how" é claramente diferente - nem no material utilizado - Will Smith parece cada vez mais maduro, excepto quando parece criar alguns déjà vus -, mas na necessidade, por vezes absurda, de explorar o sentimento e a emoção. Como se o propósito máximo do filme fosse a emoção barata do seu público. Tanto mais sucesso quanto mais lágrimas.
Não contente com os sentimentalismos excessivos, Sete Vidas é ainda um filme confuso. Não na história principal, essa é de uma simplicidade extrema, ainda que não o pareça na forma como é repisada e camuflada nas emoções alheias. É confuso na quantidade de pontas soltas que aparecem sem grande propósito e desaparecem sem uma despedida convicta. O que fazem, que importância têm ou porque agem de determinada forma, não parece interessar - e, nalguns casos, não interessam mesmo. Sete Vidas não é um melodrama clássico, por não ser clássico. Apenas melodrama.
Título: Sete Vidas
Realizador: Gabriele Muccino
Elenco: Will Smith, Rosario Dawson e Woody Harrelson
E.U.A., 2008.
Nota: 5/10

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