segunda-feira, 13 de abril de 2009

IV


A história pessoal e a diferença de Tiago Guillul em relação ao protótipo de estrela Pop é já bem conhecida - ainda que, há pouco mais de um ano, ele como quase todos os membros da FlorCaveira fossem perfeitos desconhecidos para a maioria das pessoas. Tiago Guillul, o pregador, o protestante, membro da igreja baptista, casado e pai de três filhas. Tiago Guillul, o membro da melhor renovação da música portuguesa dos últimos vinte anos (com os Pontos Negros, Samuel Úria, João Coração ou Jorge Cruz, todos provenientes da mesma editora.) O que interessa na história pessoal de Guillul é, exactamente, a diferença. Não é tanto o facto de ser pregador baptista - embora a protestância seja um dado de relevo numa música de luta contra um som formatado e contra as letras vazias e de refrão insignificante. É a forma como destoa de qualquer imagem que projectássemos para o autor desta Pop orgulhosamente Pop. Na saga de António Variações, esta é uma Pop cheia de referências e de presumíveis influências, mas que não se esgota nos modelos clássicos de onde bebeu - basicamente, da mesma forma que Os Pontos Negros funcionaram com o Rock, reformulando-o em português.
Pop que não é simples nem simplória e nem sequer imediata não é um conceito fácil de encontrar. Ainda menos em português. As experiências com sons a África que tanto pontuam pelo mundo Indie estão cá - por exemplo em "Diogo, És cão" - e a clássica referência ao universo Rock também ("Lou Reed quer ser preto"). Mas esta é da Pop mais fora do comum que se ouve, não só por cá, terreno onde é difícil surgir algo verdadeiramente novo que não seja uma cópia de formatos com 2 ou 3 anos na Europa. Guillul lembra por vezes - não necessariamente pela presença religiosa da música - o melhor dos Arcade Fire, nas composições ricas e nos arranjos bem conseguidos, é certo que com bastante menos sentimento épico. Como em "Não há descanso no sistema da Babilónia". O sentido de humor por trás da maioria das músicas - que não fazem nunca delas objectos menos sérios - é evidente e, muitas vezes, não é preciso ir para além do nome - "Beijas como uma freira" ou "Pior que gente devassa é um clero com preguiça". Vem atrasada a referência ao melhor álbum nacional de 2008 mas era inevitável.
Título: IV
Autor: Tiago Guillul
Nota: 8/10

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