sábado, 1 de setembro de 2007

Mr. Brooks

Mr. Brooks, a que os tradutores portugueses decidiram chamar A face oculta de Mr. Brooks, trazia à partida uma potencial fonte de medo, maior que as possibilidades de qualquer filme de terror. Kevin Costner. Um dos maoires e mais eternos mal-amados de Hollywood, sempre em busca de um papel que o resgatasse da mediocridade que alguns (poucos) sucessos de bilheteira não podiam esconder. Nem tanto da sua mediocridade, se bem que por vezes também lá estivesse. Mas, essencialmente, das suas péssimas escolhas profissionais. Este filme do pouco reconhecível Bruce Evans opera, se mais nada valesse, um milagre. Esse milagre. Costner. Ele nem é do melhor que o filme tem. Mas podemos, categoricamente, sem medo, afirmar que aqui temos Kevin Costner num bom papel, num bom filme. Sem hesitar. Isto, parecendo que não, é muito.

Mas Mr. Brooks é bem mais que o resgate inesperado de Costner para o mundo dos vivos. É um policial mascarado de thriller psicológico que interessa tanto como filme do género como colectânea de homenagens cinematográficas, algumas melhor conseguidas que outras. Em poucas palavras, num resumo que em nada envergonharia o mais banal dos panfletos, Mr Brooks é a história de Earl Brooks, empresário de sucesso, filantropo reconhecido e familiar dedicado. Cidadão exemplar, sem nunca passar o limite do insuportável. Au point. Tem o pequeno senão de ser um serial-killer inveterado, mais por defeito que por feitio e compulsivamente esquizofrénico. Este seria um bom principio de abordagem, mas, apesar de interessante, em nada foca o essencial. Porque o enredo, não sendo miserável, em nada está à altura do elenco e de alguns muito bons momentos. É um policial sem chama de maior, mais repetição que originalidade, mas que, ainda assim, prende.

O mérito está em fazer mais do mesmo, mas bem. Saber que se está a fazer mais do mesmo. E, não podendo melhorar por aí além dentro do género do policial, explorar as personagens, as motivações, os conflitos interiores. É aí que Mr. Brooks tem o seu expoente. Em William Hurt, brilhante interpretação de um alter-ego assassino, um duro à antiga, capaz de interpretar e perceber tudo à sai volta, espécie de Tommy Lee Jones em U.S. Marshalls (alguma semelhança com o nome da personagem talvez não seja pura coincidência). O melhor é ainda o conflito de Earl Brooks, algures entre a esquizofrenia e dupla personalidade, algures entre a luta e cedência. O melhor é a descoberta, ainda que mal explorada, da hereditariedade da coisa. O melhor é o pensamento. O pior é a acção.

O pior é alguma previsibilidade, uma Demi Moore igual a si mesma, dispensando qualquer tipo de comentários, e um policial que vive melhor quando não o é. Mas há, aparte tudo isto, alguns pormenores cinéfilos interessantes. Sempre na dúvida entre a homenagem e a colagem. Ainda mais agora que se fala na possibilidade de uma trilogia, que até é bem-vinda, torna-se impossível não sentir as semelhanças entre Mr. Brooks e Silêncio dos Inocentes, Earl Brooks e Hannibal Lecter, Tracy Atwood e Clarice Starling. Quase sempre com vantagem para Silêncio dos Inocentes. Excepto talvez na capacidade de empatia que se cria entre Brooks e o público, não obstante Lecter ser sempre imensamente mais apaixonante. Mas, quando as fronteiras entre bem e mal se esvanecem em Earl Broks, tudo se torna mais interessante. O seu conflito torna-o mais próximo e, assim, mais presente e suportável.

Título: Mr. Brooks
Realização: Bruce Evans
Elenco: Kevin Costner, Demi Moore, William Hurt, Dane Cook, Marg Hellenberg e Danielle Panabaker.
E.U.A., 2007.

Nota: 7/10

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