sexta-feira, 14 de março de 2008

Juno


Juno, depois das nomeações para os Óscares, tem dividido as opiniões em dois grandes campos. Uns vêem na rapariga de frases rápidas e lapidares, espécie de Lucky Luke da piada moderna, uma das melhores representações de um tipo de juventude. A juventude da cultura Pop, do humor que mistura as mais variadas referências actuais e passadas, da consciência social que não se esvai em movimentos propagandistas. Outros vêem em Juno uma projecção acelerada e melhorada da sua criadora, uma fraude de dezasseis anos que dispara frases que, à luz da sua curta existência, não fazem sentido e reflectem a cultura social das pessoas que a criaram e não a sua.

Juno, o filme fetiche de que insistentemente se fala e discute nos últimos tempos, é a história de uma adolescente que recusa o marasmo das personagens-tipo em que os jovens da sua idade se tornaram. É uma jovem que, ao som dos Stooges ou de Patti Smith, se insurge contra esta sociedade através do seu sentido de humor pleno de ironias e referências cruzadas entre a música, a literatura e o cinema. É esta rapariga de dezasseis anos, Juno Macguff, que seguimos quando ela descobre estar grávida, quando decide dar o seu filho para adopção e em todo o processo envolvente.

Juno é um filme tipicamente independente que mostra uma face da juventude americana diferente daquela que nos mostram quer as comédias de adolescente quer as sátiras a estas. Existe uma juventude culta, interessada – mas não apegada a lobbys ou facções – e, realmente, com piada. A independência de Juno não se vê apenas na sua linguagem. Juno não realiza um aborto, mas ao mesmo tempo o filme satiriza os manifestantes anti-aborto. Satiriza a família de subúrbio americana, as relações tipificadas, os protótipos e os arquétipos que o cinema nos habituou a ver na América. E fá-lo com enorme sentido de humor e oportunidade.

Ainda assim, apesar da nomeação para Melhor Filme e Melhor Actriz (Ellen Page) e do Óscar para Melhor Argumento Original, Juno é, de facto, um filme que vai de encontro ás criticas que lhe são feitas. Um filme escrito por pessoas de trinta mas interpretado por miúdos de dezasseis. Em certa medida, Juno deve ser entendido quase como uma BD, um objecto acima de tudo estilístico, mas que não foge aos seus erros. Ou, simplesmente, como um filme de adolescentes. Mas, nesse caso, como a prova que os pode haver bem feitos.

Título: Juno
Realizador: Jason Reitman
Elenco: Ellen Page, Jennifer Garner, Michael Cera, Jason Bateman, J.K. Simmons, Allison Janney, Olivia Thirlby, Rainn Wilson.
Canadá, E.U.A. e Hungria, 2007.

Nota: 7/10

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