sábado, 17 de novembro de 2007

In Rainbows

In Rainbows suscita, a priori, um problema que é, paradoxalmente, uma das suas maiores conquistas. Fala-se tanto de In Rainbows, o acontecimento cibernáutico que serve de Messias para os músicos e de anúncio apocalíptico para as Editoras, como de In Rainbows, sétimo álbum de originais de um dos mais marcantes conjuntos de toda a história musical contemporânea. Agora que começa a parecer relativamente óbvio a todos que este formato de download é um prenuncio dos tempos que se adivinham, torna-se também óbvio que tal só poderia ter acontecido com os Radiohead. Apesar de todos os prenúncios, só uma banda de forte qualidade mediática e musical, interessada essencialmente em expandir a sua música mas claramente atenta ao mercado, poderia romper tão frontalmente com o que muitos julgavam estabelecido, dando origem a movimentos sucedâneos por parte de diversos músicos.

Sabemos ainda que os Radiohead ficarão para sempre ligados a esta transformação, a este desinteresse do formato físico da música face ao seu formato digital, mas não nos esqueçamos nunca que, por trás da parafernália mediática, por trás das acesas discussões temáticas, há um álbum, um grande álbum, In Rainbows. Esperemos que, quando a poeira da novidade assentar, permaneça o interesse pela carreira de uma banda ímpar, de uma qualidade e influência extrema, que já nos proporcionou uma mão cheia de mãos álbuns e um dos melhores, senão mesmo o melhor, álbum da década passada – Ok Computer. O que In Rainbows, primeiro trabalho depois da experiência de Thom Yorke a solo, nos faz querer é que a melhor banda da actualidade está decidida a vincar cada vez mais a sua marca.

In Rainbows é, essencialmente, um trabalho de consolidação. Semelhante, em vários aspectos, a Ok Computer, é também marcado por Kid A e por The Eraser, o já citado trabalho de Yorke. A saga da procura de uma simbiose perfeita entre a faceta mais Electrónica e a mais Rock persistirá para sempre, mas o sintetizador é o instrumento mais ambiental em In Rainbows, papel que, de resto, Yorke já vinha acentuando. A guitarra, mais que memória residual dos tempos de The Bends, é argumento maioritariamente melódico que confere personalidade às músicas, cada vez mais belas, da banda. Mas, se In Rainbows toca Ok Computer em vários pontos, não é um cd magnânime como o segundo. Primeiro, porque se assemelha mais a um conjunto de canções do que propriamente um trabalho único – o que não é necessariamente mau. Segundo, porque lhe falta, por entre as belíssimas canções que o compõem, um momento mais visceral e puramente genial como "Paranoid Android".

“15 Step” é abertura condigna que nos remete sobremaneira para a aventura de Yorke e que nos relembra que nem só de melancolia vivem os Radiohead. “Bodysnatchers” é memória que ali reside também uma banda Rock. “Nude” é o lado mais “No Surprises” de In Rainbows com sequência lógica em “Weird Fishes/Arpeggi”. “All I Need” é o principio da pintura melancólica que eles, como ninguém, sabem pintar, sempre com requintes de malvadez para com as sensações de quem ouve. “Faust Arp” é música patognomónica dos Radiohead com beleza que tem eco na sucedânea “Reckoner”. “House of Cards” tem acordes a fazer lembrar os Blur numa das melodias menos conseguidas, especialmente se tivermos em conta que antecede a visceral “Jigsaw falling into place”. “Videotape” encerra em pacata e ligeiramente soturna composição esta playlist de elevadíssimo nível. Podemos não ter um novo OK Computer, mas ficamos com uma certeza. Que ninguém duvide que a melhor banda está de volta.

Título: In Rainbows
Autor: Radiohead

Nota: 8/10

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