segunda-feira, 6 de abril de 2009

808s & Heartbreak


Quando olharmos retroespectivamente sobre a música Pop da última e da próxima década - e especialmente agora que ela se confunde, cada vez mais, com outros géneros, com destaque para o Hip-Hop - há nomes que sabemos, a esta distância, que serão falados. O de Kanye West é um deles. Por Graduation, ainda mais por Late Registration, pela forma como "American Boy" ecoou por todas as rádios e discotecas do mundo, ou pelo dueto revelador que o juntou aos Daft Punk. Se por nada disto, de certeza pelo seu trabalho como produtor. E, numa altura em que parecia definido no seu trabalho, West opera uma reviravolta inesperada e arrojada. Desviante, na medida em que é claramente desalojada dos elementos base com que fez sucesso no mundo do Hip-Hop, e fracturante, enquanto álbum que poderia eventualmente afastar parte do seu público. É como separar o trigo do joio. Sendo o joio, quem não percebia que West é um artista à antiga nos tempos modernos. Dos clássicos. Com direito a arrogância, despiques (quem é 50cent?), tiradas polémicas e devassa da vida privada. Uma nova estrela Rock. Sem o Rock.
E, quase, sem o Hip-Hop. Daí que 808s & Heartbreak seja uma lufada de ar fresco no percurso de West. Porque vai contra tudo o que esperávamos dele. Que tenha a coragem de ir contra o seguro, faz dele um dos artistas mais arrojados na Pop do momento. Para se dizer dele um visionário, não havia necessidade de ouvir este último álbum. Bastava ver a forma como influenciou toda a forma de produzir sucessos nos últimos anos, evitando sempre as soluções fáceis e óbvias que têm sido generalizadas. Sobre as condições pessoais em que 808s & Heartbreak foi feito, já muito se disse, sendo que isso interessa apenas enquanto condicionante directo do trabalho de West. O que se sente é que estamos na presença de um álbum sincero. O que se sabe é que nunca ouviramos dele canções tão percorridas pela mesma melancolia - que em parte é produzida pelo instrumento que dá nome ao cd.
É essa a dificuldade de 808s & Heartbreak que tanto tem de atraente. Estamos habituados a um Kanye West que nos empurra com violência para um bar vintage com pista de dança e, agora, ele senta-nos e tenta emocionar-nos. Não há samples nem remakes de antigos clássicos, não há skits melódicos nem há - excepção feita a "Paranoid" - motivos para dançar. Tudo se revela em "Love Lockdown". Apercebemo-nos que o ímpeto lá está, mantém-se e reconhecemo-lo. Mas é um homem ferido quem canta. A máquina dá o efeito, a percussão dá o ritmo e a voz altera-se. Pacata, em crescendo, até ao refrão, onde explode. Tal como 808s & Heartbreak. Para quem esperava mais do lado explosivo, este é a sua versão introspectiva. A mais sincera e, por isso mesmo, das melhores que já vimos. Este é o lado melancólico de Kanye West. Mas não por isso menos glamouroso.
Título: 808s & Heartbreak
Autor: Kanye West
Nota: 8/10

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