segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Ratatui


“In many ways, the work of a critic is easy. We risk very little yet enjoy a position over those who offer up their work and their selves to our judgment. We thrive on negative criticism, which is fun to write and to read. But the bitter truth we critics must face is that, in the grand scheme of things, the average piece of junk is more meaningful than our criticism designating it so. But there are times when a critic truly risks something, and that is in the discovery and defense of the new.”

É maravilhoso o mundo do cinema. Quem, há alguns não muito distantes anos, pensasse para si uma subdivisão cinematográfica, encontraria na animação um género fechado, quer em público quer em objectivos. Histórias para crianças, com humor para crianças, de moral bem definido, que deliciavam as crianças e criavam penosos momentos para os acompanhantes, espécie de tarefa doméstica. Não é, de todo, que o género se afigura hoje em dia. Graças a uma mão cheia de sucessos, como Toy Story, Shrek, Vida de Insecto, ou até o mais recente Os Simpsons, para apenas citar alguns nomes, há hoje, muito provavelmente, mais adultos ansiosos por filmes do género do que propriamente crianças.

A receita é fácil, está escrita e Ratatui sabe cozinhá-la bastante bem, como aliás se verá ao longo do filme, aparte o trocadilho semântico. Gags bem estruturados e pensados a fluir naturalmente entre uma história de animais, sempre com metáfora social, pincelada aqui e ali com retoques de moralismo. Regar com muita animação, deixar aflorar a empatia pela personagem principal e está pronto a servir. Não tenhamos ilusões, o cinema de animação de hoje são as fábulas de ontem. E, neste sentido, Brad Bird é um bom candidato a La Fontaine de serviço, voltando a trazer-nos um encantador conto.

Não um conto no sentido mais clássico do termo, como Shrek, ainda que desvirtuado. Um conto moderno, inteligente e inteligentemente feito. Na dose certa as proporções entre história e movimento, sem nunca nenhuma das duas cansarem. Tanto há Remy, a personagem principal, em retrospecção ou comunhão com o humano, como há perseguições estonteantes ou adrenalina numa cozinha profissional. Depois, como manda a receita, há que juntar avulso vários temas que, mais ou menos subtilmente, vão sendo corridos, mesmo que nem todo o público se aperceba. A relação do homem com o animal, a família, o clã, a adolescência, a pressão social ou a estratificação social, todos estes são abordados, com especial atenção para um: o papel do critico.

Na personagem do critico de culinária, Anton Ego, cuja intérprete da voz é Peter O’Toole, vemos personificadas a arrogância e a sobranceria que muitos vêem associados ao género. Anton Ego tem aliás um dos momentos altos do filme, acima transcrito, que em muito valoriza o filme, na caracterização da critica. Este é, aliás, um dos pontos fortes deste filme. As personagens. Digno de um manual de português, encontramos as personagens tipo, estética e interiormente bem caracterizadas, e as personagens principais que, sem surpreender, conseguem fazer um bom trabalho. Tudo o mais é o filme, ou a sinopse da história a que facilmente acederá. Sabemos que este não é um filme glorioso. Mas sabemos também que assistimos ao maturar de um novo tipo de cinema.

Título: Ratatui
Realizador: Brad Bird
Elenco/Vozes: Peter O’Toole, Patton Oswalt, Lou Romano, Peter Sohn e Ian Holm
E.U.A, 2007

Nota: 6/10

1 comentário:

B. disse...

Melhor filme que o Simpsons, e dentro da animação, acho que ultimamente não apareceu nada tão bom.

Os personagens estão fantásticos, são caricaturas brutais, culminando no auge que é o Anton Ego, que estíticamente só não bate os desenhos do "The Triplets Of Belleville".

Gostei mesmo do filme.